terça-feira, 1 de setembro de 2009

DEFENESTRAÇÃO

Defenestração
Luis Fernando Veríssimo


Defenestração
Certas palavras têm o significado errado. Falácia, por exem­plo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas deveriam criar falácias em todas as suas variedades. A Falácia Amazôni­ca. A misteriosa Falácia Negra.
Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos
herméticos. Aonde eles chegassem, tudo se complicaria. - Os hermeneutas estão chegando!
- lh, agora é que ninguém vai entender mais nada ...
Os hermeneutas ocupariam a cidade e paralisariam todas as ati­vidades produtivas com seus enigmas e frases ambíguas. Ao se retirarem deixariam a população prostrada pela confusão. Levaria semanas até que as coisas recuperassem o seu sentido óbvio. Antes disso, tudo pareceria ter um sentido oculto.
-Alô ...
- O que é que você quer dizer com isso?
Traquinagem devia ser uma peça mecânica.
Comédias para se ler na escola , 59
.
- Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto. Plúmbeo devia ser o barulho que um corpo faz ao cair na água. Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração. A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu sig-
nificado, nunca me lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pes­soas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido das mulheres:
- Defenestras?
A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas ... Ah, algumas defenestravam.
Também podia ser algo contra pragas e insetos. As pessoas tal­vez mandassem defenestrar a casa. Haveria, assim, defenestradores pro­fissionais.
Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que en­cerravam os documentos formais? "Nestes termos, pede defenestração ... " Era uma palavra cheia de implicações. Devo até tê-Ia usado uma ou outra vez, como em:
- Aquele é um defenestrado.
Dando a entender que era uma pessoa, aSSIm, como dizer?
Defenestrada. Mesmo errada, era a palavra exata.
Um dia, finalmente, procurei no dicionário. E aí está o Aurelião que não me deixa mentir. "Defenestração" vem do francês "defenestration". Substantivo feminino. Ato de atirar alguém ou algo pela janela.
Ato de atirar alguém ou algo pela janela!
Acabou a minha ignorância mas não a minha fascinação. Um ato como este só tem nome próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, não existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela porta, ou escada abaixo. Por que, então, defenestração?
60
Talvez fosse um hábito francês que caiu em desuso. Como o
rapé. Um vício como o tabagismo ou as drogas, suprimido a tempo. - Les defenestrations. Devem ser proibidas.
- Sim; monsieur le Ministre.
- São um escândalo nacional. Ainda mais agora, com os novos
prédios.
- Sim, monsieur le Ministre.
- Com prédios de três, quatro andares, ainda era admissÍvel.
Até divertido. Mas daí para cima vira crime. Todas as janelas do quarto andar para cima devem ter um cartaz: "Interdit de defenestrer". Os transgressores serão multados. Os reincidentes serão presos.
Na Bastilha, o Marquês de Sade deve ter convivido com notó­rios defenestreurs. E a compulsão, mesmo suprimida, talvez ainda persis­ta no homem, como persiste na sua linguagem. O mundo pode estar cheio de defenestradores latentes.
- É esta estranha vontade de atirar alguém ou algo pela janela, doutor ...
- Hmm. O impulsus defenestrex de que nos fala Freud. Algo a ver com a mãe. Nada com o que se preocupar - diz o analista, afastan­do-se da janela.
Quem entre nós nunca sentiu a compulsão de atirar alguém ou algo pela janela? A basculante foi inventada para desencorajar a defenes­tração. Toda a arquitetura moderna, com suas paredes externas de vidro reforçado e sem aberturas, pode ser uma reação inconsciente a esta volúpia humana, nunca totalmente dominada.
Na lua-de-mel, numa suíte matrimonial no 172 andar. - Querida ...
-Mmmm?
- Há uma coisa que eu preciso lhe dizer ...
- Fala, amor.
Comédias para se ler na escola ! 61

- Sou um defenestrador.
E a noiva, em sua inocência, caminha para a cama:
- Estou pronta para experimentar tudo com você. Tudo! Uma multidão cerca o homem que acaba de cair na calçada.
Entre gemidos, ele aponta para cima e balbucia: - Fui defenestrado ...
Alguém comenta:
- Coitado. E depois ainda atiraram ele pela janela! Agora mesmo me deu uma estranha compulsão de arrancar o papel da máquina, amassá-Io e defenestrar esta crônica. Se ela sair é porque resisti.

12 comentários:

  1. 1-Legal,o autor brinca com o sentido das palavra e deixa a brincadeira real.
    2-A vontade de mudar palavras de autores é a mesma da cronica escrita.
    3-Não tem comoum autor mudar a palavra e a coisa do mundo real mudar também.
    ASS:Lucas

    ResponderExcluir
  2. •Muito legal ,gostei muito porque cada vez o texto pareçe real
    •Que ele muda as palavras mas e o mesmo sentindo da cronica
    •o incomun e as palavras que tem o mesmo sentindo do mudo real na cronica
    ass: patricia e larissa

    ResponderExcluir
  3. 1-essa cronica e muito interessante
    2-essa cronica e meio comfusa para nos entendermos ela mas e legal
    3-ela e muito grande



    matheus6-b

    ResponderExcluir
  4. 1ª)Eu achei ela muito legal pois o sentido que ele brinca com as palavras é de uma forma muito engraçada principalmente no final .um final super engraçado.
    2ª)O jeito que le brinca com as palavras e a ironia dela

    3ª)o ironia dessa cronica é que ele gostava muito de brincar com as palavras e um dia ele brinca com as palavras .

    ResponderExcluir
  5. Achai essa cronica estremamente, deficil de ser lida pelo fato de as palavras serem defices e não serem usadaso nosso vocabulario mas com aajuda dos professora pude perseber que o personagemestava indetificando o significados das palavras atraves do som e não é assim .Ele tem coriosidade na palavra defenestração e brinca fazendo a historia render.

    ResponderExcluir
  6. Essa crônica no começo achei confusa mas depois que lemos emsala d aula,naum achei ela taum confusa assim.
    Ela fala sobre uma pessoa q fica fazendo questões sobre o q elas significam e perguntando pq elas naum significavam outras coisas.
    O centro foi a Defenestração,ele achava q era "bobera" e no segundo achava q era ser igual à um detetizador mas naum,quando ela olhou no dicionário era jogar algo ou alguém pela janela.
    Ele criou várias situações com essa palavra e no final quando(na situação dele)o homem cai da janela e se esmaga no chão,ele aponta para cima e fala que foi defenestrado alguem fala,que coitado ainda tinham jogado ele pela janela.
    Esse q é o humor da crônica,alguém achar q defenestração era otra coisa e naum jogar alguém ou alguma coisa pela janela.
    Bjokinhaaassss fessora,
    Fernandinha

    ResponderExcluir
  7. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  8. 1ª)Eu achei ela muito legal pois o sentido que ele brinca com as palavras é de uma forma muito engraçada principalmente no final .um final super engraçado.
    2ª)O jeito que le brinca com as palavras e a ironia dela
    3ª) O IRONIA dessa cronica é ela é bem divertida e ironica

    ResponderExcluir
  9. De:ANA GABRIELA
    1) Primeiramente confusa depois, engraçada e'boba'.
    2) O tamanho, as falas e o tema
    3) fala do sentido das palavras e como autor se diverte trocando-os

    ResponderExcluir
  10. 1- EU GOSTEI DA DESA CRONICA POIS ELA TEM UM MISTERIO QUE SE DESENROLA NO PASAR DA HESTORIA.
    ANA CLARA

    ResponderExcluir
  11. Essa crônica e um pouco deficil de ser interpretada, mas quado consiguimos a interpretar eu perserbir que ela é legal e não tem ironismo,porém tem o jogos com as palavras que a maioria das crônicas tem,não acho essa crônica ironica pois o autor só fala oque ele acha que deveria ser o significado de algumas palavras.Maiara

    ResponderExcluir